Estes meus sapatos são novinhos em folha. Comprei-os ontem à hora de almoço a correr quando o tempo parecia escassar e as horas do dia não pareciam suficientes para fazer as coisas que preciso.

Bem, tempo é coisa que não me falta agora. Três horas antes do meu despertador tocar, os olhos bem abertos e sem pingo de sono . Acho que nunca tinha visto o amanhacer desta janela. Moro aqui há mais de dois anos. Amanhecer não é exactamente o que vejo agora. Já é dia. Olhando assim para a rua faz todo o sentido aquelas pessoas que se levantam mais cedo para correr antes do trabalho. Não há ninguém na rua. Pelo menos não na minha rua. Ouvem-se imenso os pássaros. Não passa um carro.Não faz calor. Talvez fosse mais inteligente também eu correr a esta hora. Pena que geralmente esteja a dormir profundamente e daqui a três horas ainda esteja a rogar pragas ao despertador.

A verdade é que nunca tenho insónias. Pelo contrário. Sou daquelas chatinhas que dormem perfeitamente no comboio, no avião, em qualquer sítio sem menor dificuldade. Mesmo quando estou preocupada raramente perco o sono. Mais facilmente tenho aquele sonho da onda grande que vem e vem..., mas perder o sono, não.

Devia era fazer um google acerca. Aposto que devem ter mil sugestões sobre insónias.
Há quem fume um cigarro, o que faria mais sentido se eu fumasse, beba um chá, veja tv, leia um livro. Há quem cerre os olhos na esperança de voltar a dormir. Eu tiro fotos aos meus sapatos e tento escrever alguma coisa que faça sentido para me entreter. Podia trabalhar. Isso talvez tivesse sido a melhor ideia. Vou é ouvir Seu Jorge. Ou Kings of Convenience. Ou Yael Naim.

O primeiro movimento na minha rua: um policia sai e volta a ler o jornal e um avião. Passados dez minutos já há carros.
São quase sete. Um chá não digo mas uns cereais talvez. Breakfast it is. E um sudóku talvez. Sempre me ajuda a dormir. A Chloé anda aqui atrás de mim a rebolar-se. A bichana é que parece não se importar nada de ter companhia a esta hora.