Procurar emprego parece-me muito semelhante a procurar casa.
O primeiro passo da procura baseia-se na ingenuidade: procurar no jornal. Ligo, pergunto se a casa ainda está disponível e marco a correr uma visita.
Chegamos, o prédio parece óptimo, com imensa luz. Entramos: as áreas são óptimas, imensa luz, perfeita se não fosse o pequeno pormenor de ter desde o chão a meio da parede, em toda a sua área, desde a casa de banho, passando pelos quartos à sala, azulejo cor de rosa cueca. A cozinha não tem azulejos com frutas mas não tem sítio nenhum onde caiba nem um frigorifico nem um máquina de lavar roupa. Next!
Agora quando ligo já não pergunto só se o imóvel ainda está disponível. Pergunto também se o chão da sala e dos quartos é em madeira e se há espaço para os electrodomésticos. Próxima casa: boa zona, não tem metro mas está bem localizada, T2, 3º andar. Chegamos. Tocamos no 3º. Afinal o senhor que nos vai mostrar a casa é que vive no 3º, a casa que vamos ver é no rés do chão. Entramos: a sala é tão pequena que até a minha gata se sentia lá sufocada, o quarto é interior. Quando estamos no corredor o senhor diz “aqui é a cozinha”. Olho à volta perplexa... ao meu lado está um pequeno balcão. Realmente deve ser aqui a cozinha. Como é que não percebi isto sozinha?? A cereja no topo do bolo: no final da “cozinha” ha um tanque daqueles antigos onde posso lavar a minha roupa à mão. Perfeito. Next!
Próximos telefonemas, novas perguntas. “Bom dia, eu estou a ligar por causa duma casa para alugar...ainda está disponível? Sim?...óptimo. Mas diga-me por favor...o chão é em madeira? Os quartos são interiores? Quais são as áreas de cada divisão? Em que andar é a casa? Tem a certeza?...ah...ok,...há espaço para um frigoríco e maquina de lavar roupa? E só mais uma coisinha...a casa de banho tem janelas? ...” E assim a lista de perguntas vai aumentando e a quantidade de casas a visitar vai diminuindo. Até chegarmos à conclusão que as imobiliárias existem por algum motivo, estarmos tão desesperados por uma casa que ficamos com a primeira decente que nos mostram.
Procurar emprego é a mesma coisa. Achamos um anúncio. Mandamos currículo, portfolio e mais uma cartinha de apresentação. Ligam-nos pra marcar entrevista. Fico contentíssima, levo o meu melhor ar e os meus sapatos mais lindos, e
aí vou toda catita à entrevista. No fim de termos aquela conversa toda sobre a experiência de trabalho e o que a motiva a mudar quando nao temos o azar de passar por "onde é que se vê daqui a 5 anos?" e chegamos a...”nós gostámo muito de si e gostaríamos que ficasse pra estagiar durante 6 meses por 150 euros por mês”. Uau! Que grande oportunidade. Next!
Próxima entrevista: perguntar se é estágio, se é a experiência, se é estágio profisisonal, se na melhor das hipóteses só têm para oferecer 500 euros sem prespectiva de carreira, and so on...
Novamente as perguntas aumentam e as entrevistas diminuem. O único problema é que não conheço a imobiliária dos empregos.
Talvez possa escrever todas as perguntas pertinentes que devemos fazer quando pretendemos arranjar casa ou emprego, fazer um livro, um blog...vendê-las a todas as pessoas nesta situação para as ajudar a evitar constrangimentos e perdas de tempo. E claro, o livro torna-se um best seller, o blog um sucesso. Enriqueço facilmente. Esqueço a procura de emprego, arranjo alguém para procurar casa.Ou então, não.
Lol! este teu texto deve espelhar o que vai na alma de quase toda a gente neste país. Encontrar uma casa habitábel é um pesadelo, conseguir um emprego onde não tenhamos de pagar para trabalhar...quase impossível. Enfim...também passo horas a sonhar que serei um grande ilustraor, bem sucedido e conseguirei um dia viver com o dinheiro que ganho a fazer aquilo que gosto e onde ninguém me há de explorar. Entretanto acordo!