É-me difícil de imaginar porque é que a maioria das coisas assume uma dimensão tão diferente de dia e de noite. Na maior parte da vezes, à exepção dos sonhos, tudo ganha uma dimensão maior, mais profunda ou mais grave, de noite. Nos sonhos pode acontecer de tudo e portanto não contam. Nos meus sonhos tem acontecido de tudo. Mas é à noite que tudo se engrandece.
Devia ter uns 17 anos quando viajei com o meu pai para Londres. Lembro-me de à noite não conseguir dormir e ficar a ouvir os ruídos da cidade. Até lá eu sempre tinha vivido numa casa numa aldeia onde o barulho à noite se resumia a um silêncio muito tranquilo e talvez, às vezes no Verão, ao cantar dos grilos. Talvez por isso ainda hoje, e tem-me acontecido com alguma frequência, quando deito a cabeça na almofada à procura do sono, o ruído da cidade ainda me seja estranho. Fico ali, perdida na grandeza de tudo o que a noite me traz, e se tiver sorte, adormeço.
*fotos: exposição de Peter Kogler, no Museu Berardo
Isso parece-se ser uma coisa boa (insónias à parte). Ficaste a conhecer as duas faces da moeda, e aprendeste a valorizar o que a calma da aldeia e a azáfama da cidade de melhor têm para oferecer, ao passo que para a maioria das pessoas, isso passa-lhes ao lado - ou porque sempre viveram na aldeia, ou porque sempre viveram na cidade. Aquilo que para o resto das pessoas não passa de uma coisa intangível e banal, que experienciam todos os dias sem sequer se darem conta, para ti é algo mágico e muito presente...Sntir a vida a cidade que pulsa de energia, imaginar as ruas e vielas como veias de um organismo vivo; em contraste com a calmaria e o silêncio da aldeia, e os sons tão característicos de cada um desses lugares. Não tens alturas em que te apetece imenso estar na aldeia, e outras em que davas tudo para estar na cidade?
Lugares diferentes podem marcar muito a vida de alguém. Eu cresci rodeado de natureza e isso influencia muito o meu universo criativo enquanto ilustrador. Em pequeno os fins de semana eram sempre passados na quinta do mau pai em sintra, e em casa os jardins da minha mãe foram sempre um espaço de refúgio...Acho que somos afortunados por isso.
Bjss