Ainda ontem tive de escrever sobre rotinas ou rituais numa aula de escrita criativa. Daqueles que temos sempre, todos os dias, que repetimos com mais ou menos gosto. O meu dia é cheio deles. Acordo geralmente à mesma hora e a primeira meia-hora gosto de a passar em silêncio, sem voz, nem rádio e nunca com televisão. É a minha meia-hora. Acordo vazia e esses minutos preciso deles para os pensamentos me inundarem, devagar, sem pressas. As coisas importantes do dia anterior, as importantes de hoje, ou coisas fúteis que vão aparecendo sem prioridades nem controle. Depois organizo-as e chega a calma ou os anseios, o medo ou o entusiasmo com o dia que tenho à frente. Não volto a ter aquela sensação preciosa de vazio até ao próximo amanhecer. Também gosto de comer o mesmo pão de sementes ao pequeno almoço, de ler o jornal e fazer as palavras cruzadas enquanto almoço, de falar com a minha gata logo que chego a casa, de ler o meu reader...Estas e outras são as que me acompanham com regularidade, depois há as outras, inesperadas, que tomam conta das minhas horas e se tornam a razão para acordar todos os dias.
Há dois anos e meio que tenho o mesmo emprego e trabalho sempre um dos dias ao fim de semana. Mas não mais. Amanhã eu não vou trabalhar. E suspeito que abdicar de trabalhar ao fim de semana é um ritual ao qual facilmente me vou habituar. E já agora, comemorar. Comprei uns sapatos novos com essa desculpa e já andei a dançar e rebolar aqui em casa esta musica:

*musica de Alexandre Groove e Seu Jorge