Se o que dizem é verdade, e realmente somos o que fazemos, então este homem é quem manda na chuva. Desengane-se quem achava que é S.Pedro. Este, pelos vistos, manda no resto do tempo, mas cabe a este homem, com a sua música encantada, trazer a chuva. Com linha directa lá para cima, ou não, eu sempre ouvi dizer que quando o amolador toca o seu apito, a chuva não falha. Não sei se será regionalismo do sítio onde cresci, no entanto, encontrei o amolador de facas e tesouras, aqui mesmo, em Lisboa, debaixo da minha janela e não consegui deixar de pensar “lá vem este agoirar a minha praia de amanhã”.
Apesar de o ouvir, a este e outros, desde menina, julgo que esta foi a primeira vez que o vi. Fui à janela, e lá estava o senhor, a passar a pé, com a sua bicicleta numa mão e o apito na outra. Também pela primeira vez pensei do que viverá o senhor. Liguei à minha mãe. A minha mãe explicou-me que o senhor, para além de controlar o tempo, tem como principal ocupação afiar facas, arranjar tesouras ou até panelas. Nunca me passou pela cabeça descer para pedir ao senhor para arranjar as minhas panelas, que depois dos estragos por que passam com cozinhados esturricados, pouco arranjo possam ter, nem de lhe pedir para afiar as facas, mesmo quando estas já só cortam manteiga. Gostava, no entanto, de saber como é ser o homem que manda na chuva.
Se pensarmos melhor no assunto, se o senhor apita quando trabalha, será que chove sempre na sua folga? Será que só trabalha antes dum dia de chuva? ou será que trabalha sempre mas só apita às vezes? Não será tamanho karma avassalador, para o senhor amolador?
Talvez também por o ouvir desde menina, que acho que a sua musica tem algo de bonito e encantado.. E no dia seguinte, regionalismo ou não, por causa do amolador ou não, o que é certo, é que choveu.


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