As portas abrem-se. Quase ninguém sai. Eu entro. Ninguém parece feliz por eu e mais uns cinco entrarmos pela mesma porta. Toda a gente se acotovela. De repente estou a partilhar oxigénio e os mesmos centímetros quadrados com pelo menos umas 3 pessoas. Olho sempre para aquela publicidade pendurada no tecto e penso invariavelmente que foi uma óptima ideia ali estar, porque realmente não há outro sítio para olhar, a menos que me fixe em alguém. Li há pouco tempo em algum sítio um tipo que dizia que quando anda no metro em Nova Iorque acha importante nunca olhar ninguém nos olhos. Não estamos em Nova Iorque mas não vamos arriscar. Vou continuar a olhar para a publicidade. Se fosse uma conversa, a publicidade era um desbloqueador de conversa. Seria como a meteorologia ou o último jogo que o Benfica perdeu. Já li a tudo o que tem escrito. Já acredito que os descontos no Ikea são realmente fantásticos. Tenho de começar a olhar à volta. Não é de agora. Agora ando muito menos de metro, mas há uns anos quando não tinha carro ia sempre para a faculdade, de manhã, de metro. E passado tanto tempo o mesmo pensamento ocorre-me de vez em quando. Especialmente de manhã quando a azáfama é grande, olho sempre à volta e penso quem estará a ir e quem estará a vir. Há pessoas que querem chegar a algum lado, outras só querem voltar. Sempre imaginei que com tantas pessoas ali, alguma provavelmente terá tido hoje uma boa notícia, outra um grande desgosto, alguém se pode ter apaixonada na última hora, alguém pode morrer hoje ainda, alguém pode estar a ser roubado, alguém se pode casar amanhã. Alguém pode estar a olhar para mim e a pensar o mesmo. E eu posso não ser nenhuma das opções e estar só a olhar para a publicidade do Ikea. Mas um dia destes posso ser uma das hipóteses. Porque é provável que alguém o seja.
Vamos rezar para que seja casar amanhã!
bjo
LOL! concordo com o comentário de cima. Adorei o texto...e mais uma vez, gosto da foto de cima!