Quando tinha dez anos os meus pais deram-me um telescópio no Natal. A partir daí as minhas noites, especialmente de Inverno quando se vê melhor o céu porque o ar é menos denso, eram passadas entre mantas e casacos de penas, no jardim de casa, com a Astronomy que o meu pai me comprava todos os meses e trazia nas páginas centrais o mapa do céu, uma lanterna e o meu telescópio. As noites de Verão eram passadas na praia. Vestia com orgulho a minha camisola branca que dizia a azul “Clube de Astronomia”, levávamos os telescópios para a areia e mostrávamos aos curiosos onde estava a estrela polar e as crateras da lua. Por estas e por outras semelhantes é que o meu namorado me chama às vezes, carinhosamente, de "minha nerdzinha". O conceito de nerd perdeu-se quando no 10º ano, tentada a escolher a área de ciências para seguir astronomia, percebi que o meu notório desempenho a matemática ou físico-quimica, aliado à baixa média de entrada para o curso de Astronomia, me permitiriam facilmente entrar mas muito dificilmente terminar. Seguiu-se ainda a intenção de pilotar aviões e entre outras vim parar miraculosamente ao design.
Deixei o telescópio em casa dos meus pais quando vim morar sozinha. Não compro a Astronomy e agora os meus conhecimentos dos astros são só úteis para contar ao meu sobrinho antes de dormir. No entanto, no outro dia não resisti a ver, um bocadinho encantada, as imagens do super eclipse solar. Li também que o próximo eclipse solar desta importância, aliás maior, porque será o maior de todos até ao ano 5000, vai durar 7 minutos e 26 segundos e só vai acontecer em 2132. 2132! De repente, antes dos trinta, começo a coleccionar coisas que não vou voltar a fazer, que não vou voltar a ver. Já as tinha há muito tempo, a colecção já vai longa, mas se boa parte dela não tinha lugar senão arrumada e empoeirada, outra preferia guardar numa gaveta sempre à mao.