Vou vos contar como foi. Procurar casa, mesmo que seja só para alugar, porque seja a casa comprada, alugada ou emprestada não deixa de ser para o nosso ninho no final do dia, deve ser comparável a escolher um vestido de noiva. Digo deve porque nunca escolhi nenhum, mas já ouvi histórias. Podemos vestir milhares mas quando finalmente experimentamos “o tal” não existem dúvidas. Com a casa é mais ou menos isso. Claro que se todos os vestidos que experimentamos tiverem azulejos de ponta a ponta num tom rosa cueca ou cozinhas onde não cabe nem frigorífico nem fogão, a escolha se torna mais óbvia. Ele disse “ficamos com ela”. Depois perguntou “podemos, amor?”. Podemos. Começamos a ouvir uma música de fundo como se a nossa vida tivesse banda sonora de filme pipoca de domingo e está decidido.
Esta é a minha história. Qual será a dos meus vizinhos? A minha curiosidade, apimentada por outros filmes pipoca que incluem vizinhos que se revelam serial killers ou artistas porno com vidas discretas, deve ter alguma coisa a ver com as pessoas que param para ver acidentes de carro.
E quando domingo de manhã, passeamos quase sozinhos pela nossa rua, trocada por praias do sul durante Agosto, a sentir nos pés um sol morno que não a troca por nada, vejo uma banheira na varanda do vizinho da frente. O vizinho que deve acordar à mesma hora que eu com o barulho do camião do lixo, o vizinho que sente o mesmo cheiro de lavanda das flores da outra vizinha, o vizinho que até pode sentir o mesmo sol morno e silencioso das manhãs de fim de semana e ouvir a mesma doce banda sonora quando abre a janela e se sente em casa mas tenho a certeza que as nossas histórias são diferentes. E é encantador.
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