Descobri uma nova realidade um dia destes quando acordei. Como sou bastante pitosga ando sempre de lentes de contacto excepto à noite, em casa, quando ando de óculos. Quando acordo, estico a mão tacteando pela mesa de cabeceira, à procura dos meus amigos que me devolvem a uma realidade mais nítida. Uma destas manhãs quando acordei, deixei a cabeça pousada na almofada, sem pressas, sem esticar a mão pela mesa de cabeceira, e fiquei a olhar, quieta e silenciosa, para tudo à minha volta. Sem explicação nem porquê o primeiro pensamento que me ocorreu foi em forma de revelação. Foi sem dúvida uma manhã diferente. Não era uma manhã “oh meu deus se realmente existes prova agora e faz o meu despertador para de tocar”. Era mais uma manhã de metáforas docemente inúteis em forma de piada que a transformavam numa manhã do copo meio cheio. Descobri, entre olhos ensonados semi abertos, que eu sem óculos, focando o que vejo mais à frente e desfocando o que está mais trás não sou, nada mais nada menos, do que uma boa máquina fotográfica.
O “todos” é o contrário disso sem deixar de ser diferente. É levarmos uma boa máquina fotográfica a passear ao final de semana aos sítios menos prováveis como o Intendente, os Anjos ou o Martim Moniz e em vez de olharmos só para o imediato, olharmos melhor, para o desfocado e encontrarmos boas exposições de fotografia, documentários, música de outras pessoas e culturas. E para além de olharmos, ainda acharmos a beleza que por lá se passeia. São vários dias de copo meio cheio.