Eu tinha uma professora de Português, quando era menina, que dizia que a nossa memória era feita de pequenas e infinitas gavetas na nossa cabeça onde armazenavamos informação. E claro , para os testes, só teriamos de ir à gaveta certa buscar o que precisavamos. O grande problema da memória reside aqui, nas gavetas, Se a Português eu ia sempre à gaveta certa e tudo corria bem, em matemática, a gaveta parecia ter alterado a morada e nunca a achava. Nunca a cheguei a achar na verdade.
E o problema nunca mais se foi embora, mesmo quando acabaram os testes de Português e Matemática. Este problema das gavetas. O problema universal da memória é a falta de controle que temos sobre ela. As gavetas abrem-se e fecham-se quando querem. Um dia não nos conseguimos lembrar do nome do tpo com quem tivemos a reunião no dia anterior e que nos insiste a tratar pelo nosso primeiro nome, como se nos conhecesse desde sempre, e as palavras vão-se atropelando em frases difíceis sem o raio do nome. Noutro dia estamos em casa a provar aquele bolo que fizemos pela primeira vez, depois de acharmos a receita num site qualquer, e percebemos, num lugar menor que um segundo, que comemos aquele bolo a infância toda e nunca mais nos lembrámos disso. E nem sequer sabiamos que a gaveta lá estava e não podiamos ter a expectativa de a abrir.
Se pudesse, (e como a minha professora de Português gostaria desta ideia!) , arrumaria todas as gavetas. Guardaria só o útil e o bom e com o resto, não só o mau mas tudo aquilo com que não sabemos bem o que fazer, deixaria só em fotos, em papel vurnerável e finito, sem cheiro nem sabor, para o tempo, já que nós não conseguimos, decidir o que fazer com elas. Na verdade é isso que tentamos já fazer, não é?


Em cima, a minha mãe e sis, fototirada pelo meu pai com esta máquina, para guardar numa gaveta dourada.