retrosaria da avó

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Esta semana a "mãe Paula", a querida mãe da minha amiga Sara, deu-me as fitinhas e botões antigos que achou. Relíquias.Na semana passada a minha mãe descobriu, algures nas arrumações ,os botões da minha avó, dentro de uma caixa de lata ferrugenta. Tanto as fitas como os botões não sei se terei coragem de usar em algum lado. Não sei se me quero separar deles. Lembrei-me então deste texto que escrevi para escrita criativa há uns anos:

"Como acredito que aconteceu à maioria das pessoas da minha geração, passava a maior parte do meu tempo em casa da minha avó. Num tempo em que as avós estavam em casa, a cuidar dos avôs, dos filhos, dos netos. Eu tive essa sorte. Chamo-lhe ainda hoje casa da minha avó apesar de quem lá morar ser o meu avô e a minha avó já ter morrido. A casa, naquela altura, era das avós.
Cheirava sempre um bocadinho a comida. Aos almoços servidos impreterivelmente ao meio-dia ou aos jantares às sete. Apesar da minha hora preferida ser sempre o lanche. A fruta colhida da árvore das traseiras: as ameixas muito amarelas e muito cheirosas ou às vezes o pão acabado de fazer no forno com manteiga de amendoim.
Às vezes também tinha um cheiro ligeiramente empoeirado, do longo sofá castanho, da estante de livros, quase todos médicos, que ocupavam uma parede inteira. Ao final da tarde, a luz que entrava pelas janelas da sala, pelos contornos das cortinas bordadas a branco, era tão forte que eu via esse pó. E a sala ficava com uma aura amarela que reflectia nos lustres.
A casa da minha avó estava sempre em silêncio. O rádio só estava ligado, surpreendentemente alto, na hora da missa. E durante o dia só se ouvia a máquina de costura e as vozes eram sempre serenas e calmas. A máquina de costura que unia tecidos coloridos e me fazia os disfarces de carnaval, meses antes. Uma máquina cheia de paciência e dedicação.
Nenhumas ameixas voltaram a cheirar da mesma forma, não voltei a ver luz tão forte por nenhuma janela nem a sentir um silêncio tão meigamente interrompido por uma máquina de costura. Não estão perdidos, estão só lá guardados, na casa da minha avó.
"